quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A hipocrisia que vem de cima

IVAN LOPES* e PAULO BARREIROS**

Diante do panorama político nacional, ficamos muitas vezes a pensar que as coisas não são levadas muito a sério em nosso país. Ouvimos pessoas conceituadas da sociedade falar que os fins justificam os meios, achando uma válvula de escape para determinadas situações embaraçosas. Vejamos, por exemplo, o mar de lama no qual estão submetidos muitos dos políticos brasileiros. De onde deveria vir o exemplo de moral, honestidade, justiça, retidão e transparência na aplicação dos recursos públicos, ocorre justamente o contrário. Os atos secretos - uma prática comum dentro do Senado Federal -, é uma prova disso.

Denúncias por cima de denúncias são mostradas nos meios de comunicação e os acusados sempre argumentam que não sabem de nada, que não viram nada, que nem mesmo lembram dos coadjuvantes arrolados nos esquemas e que estão sendo vítimas de perseguição da imprensa. É interessante como são usados dois pesos e duas medidas neste país. Por motivos banais pessoas sem recursos sofrem as mais severas punições, mas com aqueles que detêm o poder econômico tudo termina em pizza, poder esse que muitas vezes é adquirido nos balcões de negócios obscuros.

É tão grande a insolência que já está virando mania dos nossos parlamentares afirmarem que não estão preocupados com a opinião pública. Num surto de sinceridade, o deputado federal Sérgio Moraes afirmou que estava se lixando para a opinião da sociedade e reiterou ainda que os seus pares compartilhavam da mesma opinião. Moraes era relator do processo de quebra de decoro parlamentar do Conselho de Ética e naquela ocasião disse que não via motivos para condenar Edmar Moreira, dono do castelo de R$ 25 milhões em Minas.

O deputado garantiu que não estava preocupado em absorver antecipadamente Edmar, deixando claro que não estaria também preocupado com o que a população iria pensar e declarou: “Estou me lixando para a opinião pública. Parte dela não acredita no que vocês (jornalistas) escrevem. Vocês batem, mas a gente se reelege".

Moraes foi sincero ao proferir tais palavras, infelizmente dias após tentou remendar o discurso e voltou atrás, ou seja, ele perdeu uma boa oportunidade de ser verdadeiro. O deputado também tem razão: os políticos fazem o que querem e acabam se reelegendo, com raras exceções. Foi assim com Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, Fernando Collor e tantos outros.

O deputado gaúcho apenas esqueceu de que o parlamento brasileiro tem a obrigação de dar o exemplo e que deveria haver uma criteriosa investigação da vida daqueles que almejam ser político. Ficamos muitas vezes com inveja dos exemplos que vem de outros países cujas notícias dão conta de políticos corruptos que são obrigados a devolver o que tomaram ilicitamente da sociedade e chegam a pagar os estragos cometidos contra a coletividade com a própria vida. Não que sejamos defensores da pena de morte ou de governos totalitários, mas é desejo da maioria dos cidadãos brasileiros que tenhamos leis mais severas contra os políticos corruptos.

É uma utopia pensar que vamos resolver os problemas do país de forma imediata, pois ainda vamos sofrer essas mazelas por muito tempo. Culpa da harmonia entre os poderes, pois com os conchavos que são firmados entre os diversos segmentos, somos nós que acabamos pagando o pato, ou melhor, o pacto!

*Professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br). **Professor, Pedagogo e funcionário público.(E-mail: barreirosjari3@gmail.com)

sábado, 8 de agosto de 2009

Porto de Moz se consolida na posição de cidade turística no Oeste do Pará

O sucesso no turismo é resultado dos investimentos na mídia e nos cuidados com a infra-estrutura da cidade

IVAN LOPES

A propaganda é alma do negócio. Isso é tão lógico e parece tão consensual, que a gente tem a impressão de que o assunto não carece de qualquer discussão. Estamos redondamente enganados. Há muitos comerciantes e gestores públicos que encaram os investimentos na mídia como um gasto desnecessário e sem retorno.

Há alguns anos cometi esse grave erro quando vi as praias de Natal e outras cidades do Rio Grande do Norte estampadas nas revistas de circulação nacional como Veja e Playboy. Logo na playboy, uma revista masculina de grande apelo erótico?! Como poderia um governante gastar dinheiro público numa revista destas se considerarmos que a população daquele Estado padecia com a falta de alimentação, escassez de água e problemas na educação, saúde e infra-estrutura? Não seria uma afronta aos princípios daquele povo conservador e altamente religioso?! É, confesso que foi justamente assim que interpretei aquele fato e hoje me envergonho disso.

Os governantes do RN estavam corretos. Eu Estava redondamente enganado. O objetivo do governante que utilizava as páginas das revistas de grande circulação nacional para mostrar as belezas naturais do Estado paradisíaco foi alcançado através dos anos. Hoje, o turismo é uma das atividades mais rentáveis para os potiguares. Juntamente com o turismo vieram os grandes investidores nacionais e internacionais e Natal e o resto do Rio Grande do Norte cresce desenfreadamente. Graças a melhoria da situação econômica do Estado, foram feitos importantes investimentos nos setores de saneamento básico e o abastecimento de água, por exemplo, já não é um dos problemas mais graves daquele povo.

Hoje, todos querem morar em Natal. O Estado tem 400 quilômetros de praias lindíssimas, limpas e aconchegantes que, aliadas a hospitalidade dos potiguares, coloca o Rio Grande do Norte numa posição de destaque no turismo mundial. As pessoas se educaram para atender aos turistas e todos incorporaram o espírito hospitaleiro. Do taxista ao gari, todos têm o prazer de prestar informações e de tratar bem aos que visitam o Rio Grande do Norte.

Essa historinha é apenas para introduzir outra história mais recente que ocorre na nossa região: o turismo em Porto de Moz, no Oeste do Estado do Pará, na região do Xingu.

Há alguns anos ninguém praticamente conhecia as belezas naturais desse belíssimo município, até que à convite do prefeito da época, o Jornal Folha Vale do Jari começou a estampar em suas capas as fotografias coloridas dos paraísos existentes naquela cidade. As praias de água doce, os rios de águas cristalinas, o Festival de Veraneio (FEST SOL) e principalmente o comportamento pacífico e hospitaleiro dos portomozenses chamaram a atenção dos leitores da região do Vale do Jari, do Oeste do Pará e do restante do Amapá e Brasil. Hoje, não é possível voltar atrás. Muitas pessoas que costumavam viajar para outros destinos no mês de julho, tornaram assíduos participantes do Fest Sol.

A cidade de Porto de Moz descobriu no turismo uma das principais fontes de geração de renda e trabalho. A economia antes baseada quase que totalmente na exploração dos seus recursos naturais não-renováveis, agora passa a ser vista com bons olhos por todos os visitantes, pois não há qualquer agressão a natureza. A exemplo dos potiguares e principalmente dos natalenses, a população de Porto de Moz incorporou o espírito turístico e atualmente é vista como um povo hospitaleiro, tranqüilo, respeitador, gentil e atencioso.

Laranjal do Jari, no sul do Amapá, tem ao dispor vários balneários interessantes e a cachoeira de Santo Antônio (na verdade são cataratas, pois são diversas corredeiras e quedas d’água que formam um dos mais belos cenários do mundo) que poderiam ser transformadas em grandes atrações turísticas. Infelizmente essa localidade continua se encolhendo para o turismo, pois os governantes não investem em infra-estrutura e segurança pública. A cidade está cada vez mais apática e sofre com problemas crônicos como falta de estradas pavimentadas, eletricidade de qualidade, saúde, saneamento básico e uma rede de bons hotéis. É uma pena, pois a população já comprovou que também tem um espírito empreendedor, principalmente no terceiro setor econômico que compreende a prestação de serviços aos turistas.

Espero que os outros governantes aproveitem esses dois recortes da história para tomar consciência do papel importante que tem a mídia. Reitero que muitos gestores têm mania de avaliarem que os pequenos investimentos nos meios de comunicação são despesas desnecessárias. É gente que pensa pequeno e quem pensa pequeno terá atitudes ainda mais minimalistas. Parabéns para os potiguares e para os portomozenses que souberam em algum momento de sua história, escolher representantes que pensaram como gente grande!

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras, membro da Academia Laranjalense de Letras, Redador-chefe do Jornal Vale do Jari e colunista permanente do Jornal A Gazeta de Macapá. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br -

site: www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlopes)

Não confio em políticos

IVAN LOPES*

Ao ser incluída na relação dos senadores que usaram as cotas parlamentares de passagens para fazer doação a familiares, a presidente do PSOL, Heloísa Helena contra-atacou: “Não tentem me misturar com esses bandidos. Estou em paz com a minha consciência”. O filho da ex-senadora se utilizou do privilégio para viajar com o dinheiro público, entretanto, Heloísa Helena se considera muito superior aos seus pares. Os que integram o grupo de admiradores radicais da política alagoana também acreditam piamente na sua honestidade e são capazes de acreditar que Helena sempre estará num plano superior totalmente blindada e imune às fraquezas do resto da humanidade.

Mantendo a sina da maioria dos proletários brasileiros, mantive por muito tempo uma ideologia socialista e utópica, na qual acreditava que os políticos da esquerda eram pessoas incapazes de praticar os mesmos erros dos governantes da direita. Lula, aquele de quem sempre fui grande admirador, conseguiu me provar em poucos meses de governo que filosofia de vida e poder nem sempre são compatíveis. Aquele que lutou a vida inteira contra banqueiros, patrões, Fundo Monetário Internacional (FMI) e ALCA, logo cuidou de trazê-los para o seu lado como forma de garantir a tal “governabilidade”. O sindicalista que se fez importante e famoso ao liderar as greves num passo de mágica passou a condená-las.

Tive o prazer de entrevistar Heloísa Helena em Macapá há alguns na Unifap. Eis uma mulher determinada e corajosa a quem tanto admiro. Fico a me perguntar: Uma vez no poder, o que há de diferente em Lula e Heloísa Helena no comando do Brasil? E entre Waldez e Capiberibe no Estado do Amapá? E entre Euricelia Cardoso e Barbudo em Laranjal do Jari? Eu tenho minhas preferências que são embasadas numa série de requisitos. Mas também confesso que há casos de políticos que gosto sem qualquer explicação técnica ou lógica.

Seria ausência de sensatez se considerasse que todos os mandatários são exatamente iguais, pois cada um ser é ímpar e possui convicções que lhes são peculiares, mas a política os torna muito semelhantes, quase cópias perfeitas. O discurso torna-se afinado. Os pretextos para não atender as prioridades da população são os mesmos. O que antes das eleições era totalmente viável torna-se impossível depois que o vencedor assume o comando. Os fartos recursos tornam-se escassos. O que antes poderia ser feito de qualquer jeito passa a seguir a burocracia que a lei determina. Aquele que procurava o povo, agora se esconde. O pior de tudo é ainda ter que suportar o discurso populista, típico dos grandes ditadores.

O que distancia um ser do outro é o poder. É o mesmo poder que também tornam iguais as convicções ideológicas dos nossos políticos e autoridades. Não há santos no poder. Se existisse alguma coisa nessa vida a que eu pudesse santificar, seria a ingenuidade e a ignorância daqueles que acreditam que algum ser humano estará imune aos privilégios, as mordomias e a corrupção histórica que foi instalada no âmbito político há mais de 500 anos neste país.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br -

site: www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlopes)

Baixos salários massificam o descrédito do professor


IVAN LOPES*

Recentemente tive a oportunidade de conversar com professores da região onde ingressei na árdua e importantíssima missão de ensinar, no Rio Grande do Norte. As reclamações que costumo ouvir dos colegas do Amapá e do Pará não diferem em nada dos meus conterrâneos. A única diferença é que os salários dos profissionais da educação da região Norte são ligeiramente superiores aos que são pagos no Nordeste. Felizmente essa disparidade foi muito pior nos tempos que antecederam a criação do FUNDEF e FUNDEB. Não entendo o porquê, mas sinto que muitos educadores do Brasil a fora se sentem constrangidos ao falar de salários. Talvez não tenha consciência de que os baixos salários é um fator de baixa auto-estima e massifica o descrédito do profissional.

Mesmo sendo a remuneração um fator importantíssimo, a maior agonia revelada pelos professores é com a aprendizagem e a indisciplina apresentada pelos alunos. Apesar de os educadores terem buscado melhor formação nos últimos anos, os resultados diagnosticados nos alunos através das avaliações nacionais são pífios. O próprio MEC divulgou que a formação dos professores melhorou em todos os níveis de ensino e houve redução dos professores leigos na última década. Contudo, afirma o estudo, “apenas 57% dos docentes que atuavam na pré-escola, ensino fundamental e ensino médio, possuíam formação em nível superior, que seria aquela ideal”.

Na pré-escola, por exemplo, 27% dos 259 mil docentes tinha nível superior, em 2002, contra 17%, em 1991. O índice de profissionais com o fundamental incompleto caiu de 6% para apenas 1%, nesse período. Considerando a formação exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - magistério ou licenciatura - 91% dos professores que atuam nesse nível de ensino possuem a formação adequada.

No ensino médio, das 469 mil funções docentes, 89% têm a graduação completa e 79% deles a licenciatura. Neste nível de ensino, no entanto, quase 11% dos docentes ainda possui somente o ensino médio completo, indicando a necessidade de maiores investimentos em formação.

Na educação superior, do total de professores em 2001, 54% tinha mestrado ou doutorado concluídos, 31% possui especialização e cerca de 15% concluíram somente a graduação. Em 1991, o percentual de mestres e doutores era de 35%, 19 pontos percentuais menor.

Nos últimos anos, o número de ingressos nos cursos de graduação que oferecem licenciatura mais que dobrou passando de 166 mil, em 1991, para 362 mil, em 2002. Neste período a matrícula cresceu de 556 mil para 1.059 mil e o número de cursos passou de 2.512 para 5.880, com uma grande participação da rede pública, que concentra 3.116 cursos.

Segundo dados do SAEB, mais de 80% dos professores da educação básica participaram de formação continuada nos últimos dois anos. Essa realidade é similar para todas as regiões do País. No entanto, o mesmo estudo relata que o cruzamento dessa informação com os resultados alcançados pelos alunos nas provas de Língua Portuguesa e Matemática do Saeb indica que os cursos de formação continuada aparentemente apresentam pouco impacto no desempenho dos alunos. Segundo o estudo, isso indica “a necessidade de ampliar as pesquisas nessa área e, eventualmente, reorganizar esses cursos, redefinindo seus objetivos e métodos”.

Diante das informações divulgadas pelo MEC, fico com a impressão de que muitos professores estão buscando as universidades apenas por status ou simplesmente para melhorar a remuneração. Isso não é todo ruim.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br -

site: www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlopes)

A religiosidade e a ignorância de mãos dadas

IVAN LOPES*

Uma das melhores formas de adquirir sabedoria e combater o etnocentrismo é viajar por diferentes lugares e conhecer as mais diversas culturas. A minha esposa e historiadora Alristela Cruz, por exemplo, demorou a aceitar a idéia de que a cultura da sua região de origem era igual as demais, pois no seu ponto de vista a forma como os outros viviam carecia algum tipo de reparo. Os conhecimentos adquiridos na universidade aliados às viagens e a literatura, certamente ofereceram-lhe suporte necessário para mudar de opinião e perceber que não existe uma cultura melhor do que outra e que aquela que antes lhe era sagrada e intocável, hoje merece ser alvo das suas análises.

Confesso que fiquei surpreso com a rápida análise de Alristela ao observar a contribuição do cristianismo para a economia e a cultura da sua cidade de origem, no Rio Grande do Norte. De acordo com a historiadora, a crença infundada e demasiada da maioria daquela população solidifica o conformismo de alguns, impedindo-os de crescer profissionalmente, de melhorar economicamente e evitar, por exemplo, o descontrole de natalidade, pois a Igreja Católica, predominante naquela região, é contrária a prevenção da gravidez dentro do casamento. Desta forma, é muito normal termos famílias carentes numerosas e mulheres sendo obrigadas a manter relacionamentos insustentáveis simplesmente para manter um dos sacramentos da igreja.

Não pretendo ganhar fama de beligerante, nem quero discutir as crenças do ponto de vista dogmático, mas partindo do princípio de que todos têm o direito de professar a fé, me utilizo desta prerrogativa para fazer a minha análise sobre a inegável contribuição religiosa, sobretudo cristã, para a perpetuação da miséria, da conservação de relações mal-sucedidas, do descontrole demográfico e da alienação total do ser humano.

Por outro lado, não quero contribuir com os ludíbrios das igrejas nem daqueles que vivem à custa dos crédulos. Esses últimos acreditam piamente que só existe bondade nas pessoas que ecoam o nome de deus, mas são eles próprios que desejam todo tipo de vingança e castigo sobre aqueles que não se convencem da existência de um ser supremo que coordena todas as coisas do universo. Como pode um seguidor de toda a bondade se contaminar com o ódio? Para a maioria das denominações religiosas isso é totalmente compatível. Confesso que em algum tempo tentei me enganar, mas a franqueza e a sinceridade não me permitiram fazer parte desse conto de fadas. O fato é que as mentiras inculcadas como verdades absolutas transformavam as certezas em dúvidas, mas hoje tenho plena convicção de que toda pessoa pode ser correta e provida de caráter sem necessitar de um credo religioso, e ainda sim, terá a oportunidade de ter uma vida ainda melhor. Muitos também terão uma vida cheia de graças se viverem dentro de uma igreja. É uma questão de escolha, o problema é que muitos não têm a opção.

O mundo que encontramos só pode continuar intocável para aqueles que se permitem continuar na ignorância. Graças às pessoas que se despem das suas crenças originais é que podemos usufruir dos modernos recursos nas áreas da saúde e da tecnologia. Se cada cientista que contribuiu para o desenvolvimento humano fosse se prender ao pragmatismo religioso, certamente não haveria remédios para as mais simples doenças nem uma máquina para realizar o mais singelo serviço. Para a Igreja Católica, Galileu Galilei e Nicolau Copérnico estavam errados e mereciam ser mortos. Ainda hoje Charles Darwin é visto como um impostor pelos cristãos radicais, principalmente por aqueles que se nega a estudar as suas teses. Todas as pesquisas sobre o DNA corroboram as idéias do biólogo, dando sustentação para novas descobertas e tratamentos de saúde.

Tal como Alristela, Darwin era católico e ambos não tinham interesse em fugir um centímetro do pragmatismo da igreja romana. Mas a mentira tem pernas curtas e a verdade vem sempre à tona. Igreja e cientistas estão certos? Depende. Só se existirem duas verdades. A escolha é sua, a minha missão é provocar a reflexão.

Paradoxos da vida moderna

IVAN LOPES*

O nosso planeta evoluiu graças à ação humana, mas o homo sapiens continua cometendo assassinatos por motivos banais como o preconceito contra grupos étnicos e opção sexual, entretanto, nada se compara com a intolerância religiosa espalhada pelo mundo, principalmente nos países subdesenvolvidos. Historicamente, as pessoas mataram mais em nome de Deus do que por qualquer outra motivação sem fins econômicos. Prova disso é o mar de sangue ocorrido na Nigéria nestes últimos dias. A violência naquele país africano começou com a prisão de seguidores da Boko Haram no Estado de Bauchi, sob suspeita de planejarem um ataque a uma delegacia.

A expressão "Boko Haram" significa "a educação ocidental é pecaminosa", no idioma hausá. Seus membros acreditam que suas esposas nunca devem ser vistas por outros homens, e que seus filhos só devem receber educação religiosa. Essas posições radicais do Boko Haram não têm respaldo junto a maior parte da população islâmica da Nigéria, que é o país mais populoso da África. Quase metade daquele país é formado por cristãos e a outra parte é formada por mulçumanos. A onda de violência já causou mais de 700 mortes e estima-se que o número ultrapasse mais de mil assassinatos.

É controverso o fato de que ainda nos dias atuais tenhamos que conviver com cenas horríveis onde se queimam pessoas vivas em nome do pragmatismo religioso. Segundo os ensinamentos de Deus, o maior de todos os mandamentos é amar o próximo como a ele próprio. A essa altura coloco em dúvida os benefícios da religiosidade humana. Será que não teríamos um mundo menos intolerante e sanguinário se os humanos não se dividissem em credos?

Paradoxalmente, nos Estados Unidos, no Estado de Utah, um garoto de sete anos fugiu de sua casa no carro do pai simplesmente para não ir à igreja. A incrível perseguição ao pequeno condutor foi filmada pela câmera do carro da polícia, que teve início quando dois policiais foram avisados de que um motorista havia avançado um sinal. Após a perseguição, a 65 km por hora e com várias curvas, o carro parou próximo a uma casa e, para o espanto dos policiais, a porta do motorista se abriu e um menino saiu correndo.

Segundo a imprensa local, a criança teria alegado que preferiu fugir no carro do pai a ir ao templo, pois naquele dia ele não estava disposto a assistir a missa. Muitas crianças inventam outros artifícios para fugir da igreja. O mais comum é criar doenças para se isentarem da cobrança de se fazerem presentes em alguns lugares pouco atrativos como as igrejas e escolas. Essas artimanhas também são bastante usuais entre os mais crescidinhos aqui no Brasil, e quanto ao aspecto religioso devo confessar que fui uma criança bastante doentia!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

População cumpre o seu papel nas audiências públicas: atuar como massa de manobra

Nas negociatas das lideranças políticas o povo tem um papel fundamental. Essa função tão importante é cumprida à risca por aqueles laranjalenses que se deslocam de seus lares para ouvir os inflamados discursos dos verdadeiros defensores da região do Vale do Jari. Sem a participação dos cidadãos os eventos políticos perderiam o caráter democrático. É por isso que os políticos e demais lideranças insistem tanto na participação popular, porque desta forma fica configurada que os cidadãos tiveram direito de fazer suas reivindicações. Mal sabem eles que estão apenas cumprindo uma intenção velada dos seus líderes que é apenas quantifica-los e fazer alardes através da mídia local.

Oficialmente, as audiências públicas são realizadas para discutir os problemas que envolvem os municípios da região do Vale do Jari. Dentre os problemas podemos citar as questões fundiárias, energia elétrica, precariedade das estradas, saúde, educação, desemprego, segurança pública e tantos outros.

As intenções dos interessados pareciam legítimas, entretanto, o que se percebe é que esse tipo de evento conceituado pelos seus autores como um ato democrático transformara-se num verdadeiro palanque político com direito a lançamento de pré-candidaturas que talvez causem espanto até mesmo nas partes interessadas. Os participantes da sessão itinerante da Assembléia Legislativa do Amapá em Laranjal do Jari devem lembrar os fatos ocorridos naquela noite de dissimulações.

Outro dia um radialista de Laranjal do Jari declarou que as audiências públicas realizadas na região do Jari não servem de absolutamente nada. Dado o interesse dos seus correligionários políticos, é provável que o comunicador tenha mudado de opinião. Outro fato interessante é o comportamento dissimulado dos nossos políticos, pois mesmo se utilizando do evento para promover a depreciação de alguns adversários ali presentes, todos se tratam de forma altamente cordial e gentílica.

Diferentemente do que pensa a maioria dos pobres e oprimidos, a falsidade é uma virtude para aqueles que almejam atingir o ápice do poder. É muito provável que os mandatários tenham reforçado essa prática com os ensinamentos de Nicolau Maquiavel em O Príncipe.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br -

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